Colóquio no âmbito do projeto “Compor Mundos”

3 ABR | SALÃO NOBRE | 10h30

O médico psiquiatra e psicanalista Jorge Bouça e o encenador e cenógrafo Nuno Carinhas serão os participantes num colóquio intitulado Drama, Psicodrama, Teatro que será moderado pelo Professor Eduardo Paz Barroso. O colóquio terá lugar no dia 3 de Abril, quinta-feira, pelas 10:30 horas no Salão Nobre do edifício sede da Universidade Fernando Pessoa.

Destinado a estudantes e professores na área da Comunicação e das Ciências Humanas e Sociais, mas também na área da Saúde e a todos os interessados em geral, o colóquio integra-se num projecto transdisciplinar em curso na Fundação Fernando Pessoa e que relaciona diferentes dimensões da saúde e da cultura, e fomenta a pesquisa sobre humanidades e bem estar.
Um feixe de questões, como a overdose de informação, a desmultiplicação das polarizações sociais, o culto dos hedonismos, entre outras, dá lugar a sociedades cada vez mais “cansadas” onde se identificam abundantes sinais de um défice de esperança.
Neste tipo de ambiente, voltar a interrogar a noção de drama e a sua relevância na comunicação, o papel fundador do teatro como acto cívico e político, mas também estético e gerador de catarse, apresenta-se como desafio estimulante. Por outro lado, o psicodrama como instância terapêutica onde se valoriza o acto de mostrar e a procura de soluções para um mal estar submerso nas profundezas de diferentes singularidades, permite articular uma relação crítica com o “Eu” e com o real.
Numa sociedade híper mediatizada e globalizada sucedem-se os abismos entre o sujeito e o Mundo. Por todo o lado, desde logo nos ecrãs, deparamos com gestos e palavras que nos surpreendem e provocam. E por vezes nos deixam atordoados, desorientados. Há pois que procurar um sentido.
Só a linguagem, e com ela a deliberação e a procura de discernimento pode garantir esse sentido, e assim proteger o sujeito de uma espécie de esvaziamento ontológico, qual orfandade do Ser que, se não for preenchida, conduz ao precipício.
Este colóquio procura esclarecer com o contributo de dois reconhecidos protagonistas – Jorge Bouça e Nuno Carinhas -, o interesse actual do teatro, e suscitar o lugar do palco, enfim a cena, como espaço de gestos e palavras necessárias. Ou mesmo urgentes. Logo, que permitam reconstituir sentidos e encontrar caminhos.

Jorge Bouça é psiquiatra, psicanalista e membro da International Psychoanalytical Association (IPA). Diretor de Psicodrama Psicanalítico e membro Didata, é atualmente Presidente da Sociedade Portuguesa de Psicodrama Psicanalítico de Grupo e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Psicanálise. Foi Coordenador Regional de Saúde Mental da Região Norte, do Ministério da Saúde, e Diretor do Serviço de Psiquiatria da Unidade Local de Saúde Gaia-Espinho. Desempenhou funções como docente universitário na CESPU e na Universidade da Beira Interior. Especialista em crise, tem um percurso reconhecido na área da saúde mental.  

Nuno Carinhas é Pintor, cenógrafo, figurinista e encenador, foi Diretor Artístico do Teatro Nacional São João (TNSJ) entre março de 2009 e dezembro de 2018. Enquanto encenador, trabalhou com o TNSJ e com estruturas e companhias como Cão Solteiro, ASSéDIO, Ensemble – Sociedade de Actores, Escola de Mulheres, Novo Grupo/Teatro Aberto, Teatro das Beiras, A Escola da Noite e Companhia de Teatro de Almada. Como cenógrafo e figurinista, colaborou com encenadores como Ricardo Pais, Fernanda Lapa, João Lourenço, Fernanda Alves, Jorge Listopad, João Reis, Nuno M Cardoso, Cristina Carvalhal e Sara Barros Leitão, com coreógrafos como Paula Massano, Vasco Wellenkamp, Olga Roriz e Paulo Ribeiro, e com o realizador Joaquim Leitão. No cinema, realizou em 2000 a curta-metragem Retrato em Fuga, distinguida com Menção Especial do Júri no Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente (2001). Como dramaturgo, escreveu Uma Casa Contra o Mundo, texto encenado por João Paulo Costa (Ensemble, 2001). No Teatro Nacional São João, encenou espetáculos como O Grande Teatro do Mundo, de Calderón de la Barca (1996); A Ilusão Cómica, de Corneille (1999); O Tio Vânia, de Anton Tchékhov (2005); Todos os Que Falam, quatro dramatículos de Samuel Beckett (2006); Breve Sumário da História de Deus, de Gil Vicente (2009); Antígona, de Sófocles (2010); Exatamente Antunes, de Jacinto Lucas Pires, coencenado com Cristina Carvalhal (2011); Alma, de Gil Vicente (2012); Casas Pardas, de Maria Velho da Costa, com dramaturgia de Luísa Costa Gomes (2012); Ah, os Dias Felizes, de Samuel Beckett (2013); O Fim das Possibilidades (2015), de Jean-Pierre Sarrazac, e O Resto Já Devem Conhecer do Cinema (2019), de Martin Crimp, ambos coencenados com Fernando Mora Ramos; Os Últimos Dias da Humanidade, de Karl Kraus, coencenado por Nuno M Cardoso (2016); , um musical dos Clã; Macbeth (2017) e Otelo (2018), de William Shakespeare, e Uma Noite no Futuro, a partir de textos de Samuel Beckett e Gil Vicente (2018). A convite da Casa da Música, encenou Quartett, ópera de Luca Francesconi baseada no texto de Heiner Müller (2013), e A Viagem de Inverno, reinterpretação de Hans Zender do ciclo de canções de Schubert (2016). No Teatro Nacional de São Carlos, encenou a ópera Blimunda, de Azio Corghi e José Saramago (2022). No seu percurso, dirigiu também textos de autores como Federico García Lorca, Brian Friel, Tom Murphy, Frank McGuinness, Wallace Shawn, Jean Cocteau, Bertolt Brecht, Luigi Pirandello, António José da Silva, Luísa Costa Gomes, Elfriede Jelinek e Martin Crimp.  

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